A PRODUÇÃO BRAILLE
O aparelho de escrita usado por Louis Braille consistia de uma prancha, uma régua com duas linhas, com janelas correspondentes às celas Braille, que se encaixam pelas extremidades laterais na prancha, e o punção. O papel era introduzido entre a prancha e a régua, o que permitia à pessoa cega, pressionando o papel com o punção, escrever os pontos em relevo. Hoje, as regletes, uma variação desse aparelho de escrita de Louis Braille, são ainda muito usadas pelas pessoas cegas. Todas as regletes modernas, quer sejam modelos de mesa ou de bolso, consistem essencialmente de duas placas de metal ou plástico, fixas em um lado com dobradiças, de modo a permitir a introdução do papel.
A placa superior funciona como a primitiva régua e possui as janelas correspondentes às celas Braille. Diretamente sob cada janela, a placa inferior possui, em baixo-relevo, a configuração de cela Braille. Ponto por ponto, as pessoas cegas, com o punção, formam o símbolo Braille correspondente às letras, números ou abreviaturas desejadas.
Na reglete, escreve-se o Braille da direita para a esquerda, na seqüência normal de letras ou símbolos, invertendo-se, então, a numeração dos pontos, assim:
A leitura é feita normalmente da esquerda para a direita. Conhecendo-se a numeração dos pontos correspondentes a cada símbolo, torna-se fácil tanto a leitura quanto a escrita feita em regletes.
Exceto pela fadiga, a escrita na reglete pode tornar-se tão automática para o cego quanto a escrita com o lápis para a pessoa de visão normal.
Além da reglete, o Braille pode ser produzido através de máquinas especiais de datilografia, de 7 teclas: cada tecla correspondente a um ponto e um espaço. O papel é fixo e enrolado em rolo comum, deslizando normalmente quando pressionado o botão de mudança da linha. O toque de uma ou mais teclas simultaneamente produz a combinação dos pontos em relevo, correspondente ao símbolo desejado. O Braille é produzido da esquerda para a direita, podendo ser lido sem a retirada do papel da máquina de datilografia Braille, tendo sido a primeira delas inventada por Frank H. Hall, em 1882, nos Estados Unidos da América.
As imprensas Braille produzem seus livros utilizando máquinas estereótipas, semelhantes às máquinas especiais de datilografia, sendo, porém, elétricas. Essas máquinas permitem a escrita do Braille em matrizes de metal. Essa escrita é feita dos dois lados da matriz, permitindo a impressão do Braille nas duas faces do papel. Esse é o Braille interpontado: os pontos são dispostos de tal forma que impressos de um lado não coincidam com os pontos da outra face, permitindo uma leitura corrente, um aproveitamento melhor do papel e reduzindo o volume dos livros transcritos no Sistema Braille.
Novos recursos para a produção Braille têm sido empregados, de acordo com os avanços tecnológicos de nossa era. O Braille agora pode ser produzido pela automatização de recursos modernos dos computadores e de uma variedade de modelos de impressoras Braille, sendo possível até mesmo a reprodução eletrônica de figuras, mapas, relevos, gráficos. Vale ressaltar, ainda, a existência de softwares que possibilitam o acesso à Internet.
O Sistema Braille é empregado por extenso, isto é, escrevendo-se a palavra, letra por letra; ou de forma abreviada, adotando-se o código especial de abreviaturas para cada língua ou grupo lingüístico. O Braille por extenso é denominado grau 1 ou integral. O grau 2 é a forma abreviada, empregada para representar as conjunções, preposições, pronomes, prefixos, sufixos, grupos de letras que são comumente encontrados nas palavras de uso corrente. A principal razão de seu emprego é reduzir o volume dos livros em Braille e permitir o maior rendimento na leitura e na escrita.
Uma série de abreviaturas mais complexas forma o grau 3, que requer conhecimento profundo da língua, boa memória e sensibilidade tátil muito desenvolvida por parte do leitor cego.
No que se refere ao Sistema Braille abreviado, é importante ressaltar que, por orientação da Comissão Brasileira de Braille Integral e Abreviado, com base nos resultados obtidos na pesquisa sobre a aceitação ou não do Sistema Braille Grau 2 da Língua Portuguesa pelos leitores cegos brasileiros, está totalmente abolido o uso desse sistema na transcrição de quaisquer obras pelos centros de produção e imprensas Braille do Brasil, a partir de 1.º de janeiro de 1996.
A Comissão Brasileira de Braille Integral e Abreviado recomendou, ainda, a elaboração de um sistema padronizado de abreviaturas Braille da Língua Portuguesa, para ser usado exclusivamente na escrita individual. Esse sistema está sendo preparado por técnicos devidamente capacitados.
Os símbolos fundamentais do Braille utilizados para as notações musicais foram, também, apresentados pelo próprio Louis Braille na versão final dos estudos constantes da proposta de estrutura do Sistema, concluída em 1837.
São muitos os aspectos que incidem positiva e negativamente na escrita e leitura do Sistema Braille. Abordaremos, de forma genérica, fatores fundamentais que poderão favorecer ou prejudicar a escrita e a leitura do Braille.
A capacidade do estudante e a qualidade do professor são tão importantes como o método empregado para ensinar o Braille.
Todas as crianças têm direito a receber educação nos requisitos básicos para a leitura e a escrita, e o professor deve compreender com grande paciência as implicações da questão.
O que buscamos é uma leitura fluida, com compreensão, e uma escrita precisa.
No entanto, não podemos esquecer que a criança cega não tem pistas visuais, como desenhos, para ajudá-la a reconhecer uma palavra e tampouco pode reconhecer de imediato uma palavra específica incluída numa oração.
A ponta do dedo é um mau substituto do olho, pois seu alcance é muito limitado em comparação com o campo visual. O aluno cego pode reconhecer apenas um símbolo de cada vez. Por conseguinte, a leitura do Braille nos primeiros estágios terá como base, em grande parte, o método alfabético, silábico e fonético.
Para que o aluno cego entre no processo de escrita propriamente dita, o professor deve dedicar-lhe especial importância, para desenvolver ao máximo suas habilidades motoras, visto que o manuseio dos recursos materiais específicos para a escrita Braille - reglete, punção e/ou máquina Perkins - exigirá destreza, harmonia e sincronização de movimentos.
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